quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Análise das solicitações de tempo aprovadas pela NTAC/Gemini

por Miriani G. Pastoriza

A Comissão Nacional de Programas do Observatório Gemini,

Com o objetivo de buscar entender os critérios utilizados para que uma proposta de pedido de tempo apresentada a NTAC do Gemini fique acima ou abaixo da linha de corte e seja considerado um “Compeling science case”, solicitei a Secretaria das Comissões de Programas do LNA a lista dos projetos que foram beneficiados com tempo de observação no período 2007A-2011A .

Penso que o resultado dessa análise realizada com a informação solicitada possa ser útil para o NTAC e a Comunidade Astronômica no momento em que se pretende ampliar a participação do Brasil no Gemini. Antes de tomar uma decisão neste sentido seria importante responder algumas questões como as enumeradas a seguir:

I) Que fração de pesquisadores brasileiros utiliza os Telescópios Gemini?

II) Que tipo de programa é competitivo para ser desenvolvido com os instrumentos atualmente em funcionamento no Gemini Norte e Sul?

III) Seria necessário ampliar participação Brasileira no Gemini?

IV) Qual o papel da NTAC na elaboração dos pareceres e alguns critérios que deveriam ser adotados?










Pergunta I)
A estatística realizada com base na lista dos pesquisadores que obtiveram tempo no período mencionado e cujas observações foram de fato realizadas mostra que no período de 2007A-2011A , 11 dos 52 pesquisadores (PI) beneficiados com tempo de observação, utilizaram 50% do tempo efetivo do Gemini.


Ampliando a fração até 80% do tempo observado o número de pesquisadores favorecidos aumenta a 27. O resultado está ilustrado no histograma e no gráfico de setores.

Seria importante ampliar esta pesquisa incluindo o número total de propostas apresentadas nesse mesmo período e que foram consideradas abaixo da linha de corte

Algumas conclusões :

Resposta à pergunta I) Se consideramos 150 pesquisadores na área da astronomia óptica observacional, no Brasil (contabilizando os pesquisadores e seus orientados dos Institutos de pesquisa ON,INPE, IAG/USP, UFRGS, UFRJ, UFRN,UFSC, UFMG, UFSM e outros Institutos) como potenciais usuários dos telescópios Gemini, temos que apenas 11 pesquisadores (PI) foram favorecidos com 50% do tempo do Gemini , e 27 pesquisadores utilizaram 80% do tempo. Eles representam uma fração de 7% e 20% dessa comunidade. Por tanto uma fração muito pequena usufrui das facilidades dos Telescópios Gemini. Se realizamos a mesma análise considerando os co-autores das propostas aprovadas a estatística não muda, pelo contrario tende a afunilar mais.

Resposta à pergunta II) O resultado da pergunta I), sugere que os projetos de pesquisa elaborados pelos pesquisadores frequentemente beneficiados (com maior numero de horas observadas) são considerados competitivos segundo os critérios das comissões de distribuição de tempo apontando que os Telescópios Gemini entram na categoria de “dedicados” para determinados Projetos. Portanto na minha opinião o NTAC deveria instruir a comunidade sobre quais áreas e tipos de Projetos considera competitivos para utilizar as facilidades do Gemini. Dessa forma evitaria a muitos pesquisadores perda de tempo na elaboração de propostas que de fato serão consideradas de baixa prioridade.

Resposta à pergunta III) Analisando a distribuição de tempo do semestre 2011A quando foi ampliada a participação de Brasil no Gemini de 2,5 para 5%, nota-se que não foram incluídos uma fração maior de novos beneficiados com tempo de observação , pois novamente 7 dos primeiros 11 da lista foram beneficiados e desta vês com maior numero de horas. A segunda chamada para 2011 A com o objetivo de aumentar o fator de pressão só convalidou a tendência que vem se repetindo semestre após semestre.

Conclui-se que não seria necessário aumentar a participação nos Telescópios Gemini, pois eles atendem a uma fração muito pequena da Comunidade, cujos interesses já estão muito bem servidos com os 5% que atualmente tem o Brasil.

Resposta à pergunta IV) Os pareceres do NTAC devem ser elaborados de forma a esclarecer os pontos fracos das propostas apresentadas, e com sugestões de como ser melhoradas, especialmente quando os PI são estudantes evitando frases clichês tais como : “no compeling scientific case" sem explicar claramente a razão.

Outro ponto que considero relevante são os referees que em minha opinião deveriam ser selecionados entre aqueles que não estão competindo por tempo nesse semestre.

Outro ponto que acho importante são projetos relacionados com tese de doutorado, pois sendo projetos aprovados pelas Comissões de Pesquisa das Instituição, deveriam ser considerados em patamares diferentes a projetos de pesquisadores experientes. Um dos objetivos fundamentais do ingresso do Brasil no Gemini foi a de contribuir na formação de jovens astrônomos através do contato deles com grandes telescópios equipados com instrumentos de ultima geração.

Outro ponto importante que a NTAC deveria considerar é um numero máximo de horas de observação que um pesquisador pode ter em um determinado período, pois se não tomar este tipo de providência, os Telescópios serão utilizados para programas tipo “Survey “. Tendência que se percebe na distribuição de tempo do semestre 2011A, quando pesquisadores foram beneficiados com noites inteiras de observação.

6 comentários:

  1. Em resposta 'as críticas da Miriani, gostaria de comentar alguns aspectos:

    O numero de pesquisadores atendido por semestre é pequeno porque temos um tempo pequeno, portanto isto é inevitável.

    Mas concordo que, para atender mais pesquisadores, seja limitado o no. máximo de horas concedidas a cada projeto.

    Seria desejável que mais pesquisadores submetessem projetos. Não se pode acusar os pesquisadores que submetem projetos de estarem sendo beneficiados. Os que submetem tem também vários pedidos recusados, mas o fato de sempre submeterem faz com que acabem obviamente obtendo mais tempo do que os que raramente submetem!

    Seria muito bom que mais pesquisadores colaborassem com a tarefa de referee. Muitos recusam por causa do trabalho extra que isto acarreta dentro das nossas já atribuladas vidas. Também é difícil muitas vezes encontrar referees em no. suficiente que sejam em algumas áreas; quem dirá se restringirmos os referees a pesquisadores que não submeterem pedidos. Mas concordo que isto possa ser tentado.

    Quanto a sugestão de elaborar pareceres que ajudem mais no caso das propostas não ficarem acima da linha de corte, o que acontece muitas vezes é que nada de errado é encontrado com a proposta. Entretanto, a maneira como se faz o ranking é através de notas, e assim algumas ficam acima e outras abaixo da linha de corte pelo no. limitado de horas. Uma possível solução é a elaboração de um questionário onde se identifique os pontos fortes e fracos da proposal, que sirva de subsídio para a atribuição de notas, e as respostas a este questionário sejam disponibilizadas aos proponentes.


    Thaisa

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  2. Caras professoras Thaisa e Miriani,

    Meus comentários completos sobre o texto principal deverão pararecer nesse blog em breve.

    Sobre o comentárioda prof. Thaísa, gostaria de lembrar que a comissão do biênio 2009-2010 já tinha esse perfil, era composta majoritariamente por não-usuários do Gemini.

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  3. Cara Professora Miriani,
    Tem um detalhe sobre o levantamento feito que eu gostaria de esclarecer: o tempo concedido em banda 4 é tempo de "poor weather queue" que não sai do tempo disponível para o Brasil e portanto não deveria ter sido contabilizado. Além disso, devo destacar que o levantamento feito foi do tempo concedido e não do tempo de fato observado. A distribuição das horas efetivamente observadas por PI é um pouco diferente e os números citados não correspondem a realidade.
    Vou enviar os números corretos levantados pela SECOP para o Boletim da SAB.
    Marilia

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  4. Cara Miriani e todos.

    Obrigado por trazer essas questões. Penso que esse debate pode ser útil e esclarecedor.

    Quanto à afirmação de que "a NTAC deveria considerar é um numero máximo de horas de observação que um pesquisador pode ter em um determinado período, pois se não tomar este tipo de providência, os Telescópios serão utilizados para programas tipo “Survey “. Tendência que se percebe na distribuição de tempo do semestre 2011A, quando pesquisadores foram beneficiados com noites inteiras de observação.", não creio que isso seja adequado.

    Já foi inclusive levantado que por termos em geral programas mais curtos, criava-se um desbalanço com outros parceiros em relação ao tempo utilizado, que acabava sendo proporcionalmente maior para usuários do tempo brasileiro.

    Portanto não vejo vantagem em se limitar o tempo das propostas. Penso que o critério principal deva ser o mérito da proposta, de preferência sem limites à duração.
    Não vejo problemas em realizar programas do tipo "survey". Ao contrário, creio que esse tipo de proposta pode ser extremamente benéfico para a nossa comunidade. Em geral, projetos de tipo "survey" envolvem muitos participantes e permitem uma exploração mais diversa dos dados.

    Ao fazer uma estatística da utilização, seria interessante levar em conta não apenas o PI, mas toda a composição do time e o número de publicações associadas.

    Outro aspecto interessante dos "surveys" é a possibilidade de utilizar tempo brasileiro para compor uma proposta internacional (ou seja, um "rateio" entre vários países membro). Com isso, mesmo contribuindo com uma fração pequena do tempo, os usuários brasileiros podem ter acesso aos dados do projeto completo, que podem somar mais que todo o tempo brasileiro disponível.

    Vejo isso como uma vantagem, desde que o envolvimento brasileiro seja real e efetivo e não um "comércio de tempo".

    Enfim, o debate está lançado.

    Saudações.

    Martín.

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  5. Caras Thaisa e Marilia:
    Thaisa :
    No levantamento que eu fiz, como Thaisa menciona não considerei o numero total de tempo solicitado pelos pesquisadores. A Thaisa diz que poucos solicitam tempo e isto seria o motivo da freqüência observada. Seria importante incluir esta informação para avaliar quantos pesquisadores da comunidade solicitaram as facilidades do Gemini, antes de tomar a decisão de ampliar a nossa participação.


    Marilia:
    Eu considerei para os cálculos as horas observadas e não as concedidas. Nas planilhas, elas tem uma coluna que da esta informação. Porem, inclui 2011A para verificar se a tendência na distribuição de tempo apresentava as mesmas características das anteriores

    Martin:
    Na estatística eu não inclui os colaboradores, porem com uma leitura rápido da perceber que a tendência se acentua, seria muito importante considerar este ponto.


    Em relação ao numero de horas concedidas e ao mérito científico das propostas: Concordo plenamente que seja considerado o mérito científico do Projeto. Porem e importante também considerar que nossa Comunidade astronômica tem grupos com patamares diferentes de desenvolvimento. Tem grupos de 30 pesquisadores em SP , Rio ou RS com provada e longa experiência de colaboração internacional. Para eles e mais fácil elaborar propostas nos moldes considerados competitivos. Porem para os pesquisadores dos vários grupos em formação das novas universidades Federais, Estaduais e Privadas que ficam fora do eixo Rio-SP, não e simples entrar em grupo do tipo que Vc menciona, muitos de eles, finalizaram seu doutorado e ainda não fizeram um Pos-doc no exterior. Por este motivo temos que adequar nossos critérios para que eles também tenham oportunidade de utilizar as facilidade do Gemini. Conceder tempo ilimitado excluiria muita gente da possibilidade de crescer cientificamente. Questão de estatística: o Brasil tem bons jogadores de futebol porque a maioria das crianças brasileiras jogam futebol!
    Abraços
    Miriani

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  6. Cara Miriani.

    Concordo que é uma "nova" forma de se fazer astronomia. Mas penso o contrário do que você. A minha experiência em trabalhos em colaboração me fazer crer que é muito mais fácil aprender a fazer ciência competitiva estando em uma colaboração do que trabalhando de forma individual.

    Não quero me estender sobre o assunto, mas essa forma de trabalho permite que a pessoa fique exposta a um ambiente fervilhante em trabalhos e ideias, mesmo sem estar nos "grandes eixos". Justamente, a maior parte da interação é feita de forma remota. Um jovem pesquisador (mesmo que ainda não totalmente formado) pode fazer contribuições concretas e pontuais a um grande projeto e ao mesmo tempo acompanhar a visão geral e ganhar formação, justamente por estar em uma colaboração.

    Enfim, concordo que é um debate muito interessante e relevante, mas acabamos nos distanciando do assunto Gemini.

    Terei grande prazer em continuar essa discussão em outro "thread".

    Abraços.

    Martín.

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